Engatilhando Movimentos do Bardo de Dungeon World

Alguns de nós gostam de, vez ou outra, interpretar o bardo, o cara que entra em grupos de aventureiros em busca de histórias fantásticas para inspirar suas canções e contos. Ele também funciona muito bem nas zonas urbanas, seja em estalagens, seja entre os nobres.

O bardo de Dungeon World possui um dom místico inserido em sua arte de entretenimento, seja na sua voz, seja na execução de um instrumento musical. Outro grande talento do bardo é seu conhecimento sobre os lugares e o trato com as pessoas.

Dando continuidade ao esclarecimento de alguns movimentos que geram dúvidas sobre como são engatilhados, eis os que consideramos importantes destacar por meio de exemplos:

ARTE ARCANA

Um movimento que todo bardo possui, pois começa com ele. A descrição diz o seguinte: "Quando tecer um feitiço básico a partir de uma performance, escolha um aliado e um efeito:".

O significado da descrição é que se o bardo realizar uma performance artística com a vontade de realizar um efeito mágico, ele saberá escolher as notas, timbres e harmônicos corretos para tal efeito acontecer. Significa também dizer que nem toda vez que ele tocar um instrumento ou cantar uma canção estará criando um efeito mágico. Sendo assim, sua descrição da ficção tem de demonstrar sua intencionalidade. Vejamos um exemplo:

Pavel, o Corvo, é um excelente flautista. Mais que isso, ele é um Bardo, e consegue extrair coisas fantásticas de seu instrumento. Foi tocando sua flauta que ele libertou a bela Jade de um feitiço de sono. O aliado é Jade e o efeito é remover um encantamento que esteja afetando sua mente.

Você pode considerar que esse movimento é muito poderoso pois pode remover quaisquer encantamentos. É verdade. Aqueles encantamentos que afetem a mente. Mas como devemos sempre levar em conta a ficção e exatamente o que diz a descrição do movimento, eis o que o Mestre poderia fazer: Jade poderia está sobre encantamento que parecesse aos demais que sua mente foi afetada. No entanto, isso não é verdade. A mente de Jade está intacta mas o corpo é que está bloqueado para a mente. Nesse caso, o movimento sequer seria engatilhado mas o bardo ainda assim teceria um feitiço básico que não conseguiria libertar Jade de sua prisão mágica.

Após uma luta terrível em que os aventureiros escaparam por pouco, Diana Ventrel, a barda do grupo, resolve cantar uma bela e profunda cantiga curativa. Ela senta de joelhos ao lado do anão gravemente ferido. O mestre pergunta se o que pretende é realmente usar sua Arte Arcana, o que o jogador de Diana confirma. O jogador rola Carisma e obtém um 8. O mestre descreve que o som penetra na carne do anão, coagulando o sangue e fechando onde sua magia permitiu. Quando o canto termina, o silêncio percorre e preenche o local onde os companheiros estão. Pouco depois o som de passos vindo na direção deles rompe o silêncio recém conquistado. O anão suspira um "Ai", pega seu machado e espera o pior.

Kakuy, o guerreiro, está em apuros. Após um tremor de terra, ele desliza para a beira de uma fissura conseguindo segurar-se com apenas uma das mãos. O mestre diz: "O que você vai fazer, Kakuy?" O jogador responde: "a única coisa possível, usar a força de meus braços para me erguer e alcançar a borda com a outra mão". "Acredito que você esteja Desafiando o Perigo então role a Força." O jogador rola os dados e o resultado é bem miserável: um 6. "Espere, Mestre! Kakuy ainda tem uma chance!", diz o jogador que controla o bardo. "Tambória está mais perto do guerreiro e eu quero inflamar sua disposição com minhas palavras: Elfa, sei que sua chama é imortal mas a desse pobre homem é perene! Ajude-o a viver!". Diante disso, o mestre concorda que é a Arte Arcana em ação e pede para o bardo rolar seu Carisma. A rolagem foi muito boa, concedendo +2 à rolagem de Ajudar da elfa. Por sua vez, Tambória diz: "Eu ouço o pedido do velho Jacks mas já estava decidida a ajudar Kakuy a sair do perigo de morte. Eu vou tentar segurar sua mão solta". Ele rola +Vínculo que é +1 mas o resultado não é muito bom, na verdade um desastre. "Ao tentar salvar o guerreiro, a elfa ladina escorrega e  piora a situação, caindo sobre Kakuy e ambos caem para a escuridão".

CHARMOSO(A) E RECEPTIVO(A)

"Quando conversar francamente com alguém, você pode fazer ao seu jogador uma pergunta da lista abaixo, que deve ser respondida com honestidade. Aquele jogador então poderá também lhe fazer uma pergunta da lista abaixo".

A clareza sobre esse movimento não foi possível somente por minha interpretação particular. Tive que fazer uma boa pesquisa, indo em fóruns e grupos do Facebook.

Minha maior dúvida estava na via de mão dupla do movimento. O Bardo, durante a conversa, me parece que se fragiliza, pois pode repassar informações importantes para o outro lado. Então, fiquei imaginando diversas situações em que isso não seria bom ou seria difícil ao Mestre fazer uma pergunta que fizesse sentido.

Refleti também sobre se uma conversa em tom de ameaça poderia engatilhar o movimento pois me parece mais óbvio que a conversa deveria ser amigável, amistosa e em ambiente de descontração.

Extraí algumas informações de uma resposta do usuário SkinnyGhost neste fórum. Ele é um dos autores do jogo, Adam Koebel. Adam diz que numa conversa entre dois PJs, se o outro jogador mente, ele pode disparar o movimento Desafiar o Perigo que é o Bardo perder a confiança no outro PJ, caso este confie nele.

Ou seja, se houver uma mentira por parte do outro lado, o Bardo saberá. O Mestre pode passar uma informação falsa para o Bardo pelo PNJ que não o enganará. "A mentira pode criar um drama adicional", Adam comenta.

Usuários do Facebook, após a leitura dessa discussão, a interpretação que se tem é que você pode complicar, aceitando que o PNJ pode mentir mas o Bardo saberia, ou então simplificamos e o PNJ não pode mentir para um Bardo.

Abaixo alguns exemplos da forma como interpretamos o Movimento:

Diana gostaria de entrar secretamente nos aposentos do Príncipe para procurar por uma pista. Cedo da manhã, a barda esbarra propositalmente numa das concubinas do Príncipe num dos corredores do palácio onde ela é hóspede. Pede mil desculpas, sorrir e inicia uma conversa divertida com a bela morena de olhos castanhos e longos cabelos cacheados. O jogador de Diana diz ao Mestre que ela está sendo Charmosa e Receptiva. O que o Mestre concorda. O jogador escolhe uma pergunta que poderia revelar mais sobre a morena: "O que você mais deseja?". O Mestre surpreso com a pergunta, pensa um pouco e responde: "A morena, de nome Kayra, está muito atraída pela elfa e gostaria de passar uma noite com ela." A conversa agora gira em torno dos elogios de Kayra à beleza da barda. O Mestre escolhe a pergunta do PNJ: "O que você quer que eu faça?". Na ficção, Diana começa a falar sobre como gostaria de ver os aposentos de Príncipe e como é viver com ele e mais outras mulheres naquele palácio. Kayra percebe que a elfa gostaria de acesso ao local e ver nisso a oportunidade de seduzir Diana.

O velho Jakks e seus companheiros estão sentados à mesa com o orc Rugar e seus imediatos num barracão que serve de taverna dentro do acampamento militar daquelas criaturas. O aventureiros estão querendo salvar um vilarejo onde se encontram da destruição certa pois a força do reino está a uma grande distância para defender aquela região do avanço surpresa do exército de Rugar. Jakks trouxe um barril de bebida para a ocasião, sabendo que uma conversa em clima amistoso seria o melhor caminho para dissuadir o orc deixar o vilarejo intacto em sua passagem. A conversa entre eles ainda não está indo muito bem mas o jogador diz ao Mestre que Jakks está conversando francamente com Rugar e seus aliados, dizendo que o local é indefeso e não poderia fazer nenhum mal a eles. O Mestre concorda e pede que o jogador escolha uma pergunta. "Como faço para conseguir que você não destrua o vilarejo?". Na cena, Rugar pergunta ao bardo se ele conhece alguma canção ou lenda sobre os grandes orcs de Tebas. Jakks tenta se lembrar de algo, o Mestre diz que isso é Falar Difícil. O jogador tem sucesso na rolagem de Inteligência e o mestre responde que ele conhece os grandes feitos de Mogash, o Terrível, pedindo-o que o jogador conte ao Orc. Após a história de Jakks sobre o conquistador orc, o Mestre faz a pergunta: "A quem você serve?". Durante a conversa Rugar percebe que Jakks não serve a ninguém a não ser ele mesmo e seus ideais e que provavelmente esse encontro entrará para alguma canção do velho bardo.

Esses foram os únicos movimentos que achei melhor trazer para esse post. Espero que tenham gostado e caso tenham dúvida em algum outro movimento da classe Bardo, por favor comentem aqui em baixo.

Anteriormente escrevemos sobre alguns movimento do Bárbaro que você pode ler aqui.

A próxima classe será o Clérigo. Até lá!

Comentários

  1. Excelente post. Dungeon World é um ótimo sistema e através do seus posts tenho ficado com muita vontade de experimentá-lo... Convide-me pra uma sessão! kkk

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    1. Você sabe que eu sou daqueles mestres que gosta de conhecer e experimentar vários sistemas. Mas tá na cara que o DW é daqueles jogos que continuarei a jogar por muito tempo. E sim, quando eu for mestrar novamente, convidarei para você. Monte um grupo para uma sessão de DW com você mestrando que eu também participarei.

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